Se tu viesses ver-me...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca
"...Encontram-se de novo...
Sem palavras, despindo o roupão, abaixou-se sobre ele, erguendo as pernas flectidas pelos joelhos, para cingir-lhe as costas com elas e ficando-lhe os braços nos ombros. Soltou um leve e inadvertido som de prazer ...
Silenciosa e avidamente, moviam-se em uníssono, ela de cabeça atirada para trás, de olhos fechados a uma brilhante luz branca por detrás das pálpebras, no momento em que todos os mundos se tornavam um só e o interior do seu corpo era um cálido mar a fluir.
Ela fitou-o, olhos nos olhos, e agarrou-o com força...
Imediatamente, o corpo dele estremeceu, e uma vez mais surgiu a gratidão mútua, os beijos, suaves e consoladores, como se cada um deles amparasse o outro, servisse de guia para o regresso à terra que tinham abandonado durante aqueles minutos anteriores..."
Flutuo nas nuvens criadas pela minha imaginação
Redesenho a paisagem onde te procuro
Mas quero mesmo é pensar
Ainda pertenço a esse teu mundo de sonho
Vertigem inigualável, qual abraço envolvente
Aconchego-me no teu corpo e repouso serenamente
Mas logo nasce de mim o incontrolável desejo de te ter
De me teres só para ti sonhando acordada...