Numa atitude tacitamente concertada, estendes a tua mão, recostando teu corpo no sofá e tomas a minha; com a outra, agarras-me pelo pescoço, deslizando os dedos por entre os meus cabelos, apossando-te de mim, como se tratasse de uma dança ritual.
Apertamo-nos um contra o outro, como se estivessemos em perigo de repentinamente sermos afastados, e o abraço torna-se mais forte, até que me sinto cair num estado em que todas as sensações tivessem sido miraculosamente exacerbadas, como se a pele se me tivesse tornado demasiado sensível.
As tuas mãos seguram o meu rosto, examinando-o com enlevada atenção, como se nunca me tivesses visto, até então.
A fronteira dos ossos e carne desvanece-se, ao unirmo-nos, movendo as mãos para descobrirem, como que novas terras, novos campos de ervas selvagens.
Tens os olhos fechados e fecho também os meus, com força, depois com mais força ainda, até que por detrás das pálpebras, surge um clarão ofuscante.
Sinto o conteúdo do meu corpo derreter-se até ao limite dos ossos, dissolvendo-se num qualquer som de distantes gritos abafados. Ficaste imóvel, enquanto eu escutava, como se tratasse de ouvir o som de um búzio, o latejar do meu próprio sangue, sem poder distinguir o meu corpo do teu...
Num estado de letargia, senti-me arrastada através de regiões de tempo, nunca antes sentidas; vi-nos ambos a flutuar, numa qualquer noite de estrelas e escuridão...
Tudo tinha morrido, só nós estávamos vivos.
Acordámos ao mesmo tempo, olhámo-nos e beijámo-nos...
O mundo recomeçara!